Ferreomodelismo conquista rio-pretenses de várias idades

vida_paulosotelocalvoAlém de ter em casa uma maquete com 15 locomotivas e 80 vagões, o bancário Paulo Sotelo Calvo, 46 anos, gosta de sair a campo para filmar e fotografar trens e assim alimentar seu canal no YouTube dedicado à memória da Estrada de Ferro Araraquara (EFA).

 

O bancário Paulo Sotelo Calvo, 46 anos, não tem nenhum ferroviário na família, mas é um apaixonado pelo universo das locomotivas desde a infância, quando ganhou de presente um Ferrorama, aquele trenzinho que é um dos clássicos brinquedos dos anos 1980. Seu entusiasmo pelo transporte ferroviário é tanto que ele sempre sai a campo para tirar fotos e filmar trens, material que alimenta seu canal no YouTube dedicado à memória da Estrada de Ferro Araraquara (EFA), cuja expansão de sua malha férrea tem ligação direta com o desenvolvimento de Rio Preto.

Mas essa paixão não para por aí. O bancário também é adepto do ferreomodelismo, um hobby alimentado pelo saudosismo e que tem no interior paulista um grande número de seguidores. “Gosto muito desse universo. Minha vontade era ter um trem de verdade em casa. Mas como isso é impossível, me contento com as miniaturas”, brinca Calvo, que hoje possui 15 locomotivas e 80 vagões, além de manter em casa uma maquete para colocá-los nos trilhos.

Considerado um dos hobbies mais antigos do mundo, o ferreomodelismo surgiu no auge do transporte ferroviário. As primeiras miniaturas de trens foram fabricadas por volta do ano de 1830, por artesãos da Alemanha. No Brasil, onde a ferrovia impulsionou o surgimento de inúmeras cidades, principalmente no interior de São Paulo, o ferreomodelismo contribuiu para a manutenção de sua memória, já que o transporte de passageiros não acontece mais, com exceção de passeios turísticos.

Atento aos detalhes

Em Rio Preto, a Demarti Modelismo, loja no bairro Redentora especializada em diferentes tipos de miniaturas elétricas, é o reduto dos adeptos do ferreomodelismo da região. Calvo marca ponto na loja praticamente todos os sábados, para trocar figurinhas com outras pessoas que compartilham do mesmo hobby que o seu. “Tem um grupo com cerca de 15 pessoas que se encontram sempre para trocar ideias.

Cada um leva suas locomotivas e mostra as adaptações feitas nelas”, comenta o bancário. Segundo Calvo, o ferreomodelismo é um hobby que prima pelos detalhes, assim como boa parte das coleções que envolvem réplicas em miniatura de carros, motocicletas, aviões, navios e outros veículos. “O objetivo é tentar reproduzir a realidade com o máximo de detalhes possíveis. Isso tanto nas locomotivas e vagões como nas maquetes”, explica o bancário de Rio Preto.

materia-frateschi02Envelhecidos

Uma intervenção muito comum entre os adeptos do ferreomodelismo é o ‘envelhecimento’ dos trens, de modo a deixá-los mais próximos dos modelos reais. “Você não vê um trem novinho cruzando a cidade. A máquina sofreu as influências do tempo, e isso a gente também tenta reproduzir nas réplicas”, reforça Calvo.

Para ele, o ferreomodelismo é a possibilidade de ter ao alcance um veículo que tem uma forte ligação com a origem do interior paulista. “Para quem gosta de trens de verdade, esse hobby é um prazer.” No entanto, Calvo não conseguiu despertar nos filhos adolescentes o paixão pelas réplicas de locomotivas. “Quando eles eram pequenos, até iam comigo fotografar os trens. Mas hoje os jogos eletrônicos fazem uma concorrência desleal”, lamenta o bancário.

Ferreomodelismo vai além da brincadeira

No ferreomodelismo, o praticante precisa ser um pouco de eletricista, engenheiro, arquiteto e decorador. É assim que o empresário rio-pretense Gilmar Sarti, 47 anos, se sente quando está envolvido na construção de maquetes ou na customização de suas réplicas de locomotivas e vagões. Colecionador de miniaturas de carros, Sarti descobriu o ferreomodelismo há cerca de um ano, depois de visitar uma exposição do Clube Rio-pretense de Colecionadores de Miniaturas (CRCM).

“Fiquei encantado com a riqueza dos detalhes construídos na maquete”, conta ele, que hoje mantém sua própria maquete de ferreomodelismo em sua empresa do ramo de estofados. Sarti montou sua maquete na empresa por não ter espaço em casa. Além de chamar a atenção dos clientes, é o recurso que o empresário usa para dar uma descansada na mente durante o trabalho. “A maquete que montei é suspensa por roldanas, caso precise usar o espaço ocupado por ela na empresa”, explica.

Para o empresário, o ferreomodelismo não é uma simples brincadeira. “Quem pratica esse hobby gosta dos detalhes. Não é só colocar o trem e os vagões para circular nos trilhos. Há um cuidado com as proporções de árvores, jardins, pessoas e outros objetos que compõem a ambientação da maquete”, sinaliza. Conforme Sarti, quanto mais detalhes uma réplica apresenta em relação ao modelo original, mais atenção ela vai chamar. “A reprodução da realidade em tamanho reduzido é o grande desafio do colecionador”, reforça.

materia-fratesch-03Com quatro locomotivas e 28 vagões, o empresário dedica os fins de semana e as horas de folga para o aperfeiçoamento de sua maquete. “Meus filhos gostam e participam com ideias na construção. E, para minha felicidade, minha mulher incentiva esse hobby em família. Hobby, aliás, herdado de meu pai, que sempre gostou, mas nunca pôde ter em virtude de dificuldades financeiras”, destaca.

Mercado atraente

Sarti é um das pessoas que fazem do interior paulista um dos maiores mercados consumidores de réplicas de trens e vagões, segundo a Frateschi Trens Elétricos, de Ribeirão Preto, a única na América Latina a fabricar locomotivas elétricas em miniatura e réplicas de composições reais. De toda a produção da empresa, cerca de 30% dos produtos têm como destino o interior de São Paulo. “As pessoas pensam que o transporte ferroviário morreu, mas ele está vivo e em expansão. A ferrovia é de valor estratégico imprescindível para um país como o Brasil, e esse crescimento ajuda a fomentar ainda mais a paixão que muitos brasileiros têm pelos trens”, diz Lucas Frateschi, diretor da empresa. No Brasil, há uma série de associações que reúnem os amantes desse hobby, colaborando para intensificá-lo entre as novas gerações.

Empresa exporta para nove países

Para Lucas Frateschi, diretor da Frateschi Trens Elétricos, um dos aspectos que colocam o interior paulista em evidência no ferreomodelismo é o fato dos trens ainda cruzarem o perímetro urbano de muitas cidades da região. “Isso não acontece mais nos grandes centros urbanos. O contato com a ferrovia, mesmo não sendo como passageiro, ainda desperta fascínio nas pessoas”, comenta ele, que representa a terceira geração da indústria de trens elétricos em miniaturas, sediada em Ribeirão Preto.

Com produção de 10 mil unidades por ano, entre locomotivas e vagões, a empresa comercializa réplicas em mais de 10 Estados brasileiros, além de nove países, como Argentina, Austrália, Nova Zelândia, Rússia, África do Sul, Suíça e Taiwan. Todo o catálogo da Frateschi é composto por réplicas de locomotivas que existem ou existiram na malha férrea brasileira. Para dar vida a cada nova coleção, o que leva cerca de dois anos, a empresa investe em pesquisas históricas para garantir o máximo de fidelidade aos modelos reais.

“Os adeptos do ferreomodelismo são detalhistas. Como nos dedicamos a difundir a memória ferroviária, nos preocupamos em reproduzir todos os detalhes possíveis”, diz o diretor. Para o mercado internacional, a indústria promove adaptações nos modelos comercializados, com cores que dialogam com a cultura de cada país. Assim como muitos itens que não são essenciais na cesta de produtos da família brasileira, o mercado do ferreomodelismo também está sujeito às intempéries financeiras do País. No entanto, Frateschi destaca o aspecto emocional envolvido no hobby, o que faz com que seus adeptos não desistam de vez de investir em suas coleções de trens e vagões. “Ele não vai deixar de comprar, mas comprará menos.”

Fonte: Diário da Região
http://www.diariodaregiao.com.br/cultura/ferreomodelismo-conquista-rio-pretenses-de-várias-idades-1.456464